O evento destaca a importância da desconstrução dos pensamentos manicomiais ao combater a opressão e promover a inclusão e a resistência 

A vigésima edição do evento em prol da luta antimanicomial ocorreu no último dia 17 de maio no auditório do Campus Uva Barra. O evento contou com a participação de profissionais da área de Psicologia, professores, palestrantes e convidados especiais como os integrantes do Ateliê Gaia, do Capsad, artistas plásticos, músicos e oficinas interativas. A celebração ressaltou a mensagem da importância de desconstruir os pensamentos manicomiais e reforçar que essa luta é um ato de resistência contínuo. 

No dia 18 de maio, é comemorado o  Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que  reforça o combate  pelo direito fundamental à liberdade e ao cuidado das  pessoas  com  algum tipo de sofrimento psicossocial. Esse movimento não é isolado. Ele é também antirracista, anti-LGBTfóbico e anti-segregacionista. Por meio de uma participação especial no evento, a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, destacou em vídeo, o caráter antirracista que a luta antimanicomial possui. “Trata-se da democratização do acesso da população negra à saúde mental”, comentou. 

O tratamento de pessoas em sofrimento psíquico é historicamente marcado por opressão, invisibilidade e desamparo. Milena Bilate, aluna da instituição, destacou no início da mesa de abertura, o fato de cada pessoa possuir sua própria história com diferentes estratégias de enfrentamento. “Preconceitos, medos e paradigmas devem ser abandonados para que possamos abraçar uma visão mais compassiva e inclusiva da saúde mental, pois a cura não reside na segregação e medicação excessiva”. 

O evento possui grande importância nos centros acadêmicos, pois muitos alunos ingressam no curso de Psicologia, carregando preconceitos e ideias equivocadas sobre pessoas em sofrimento psíquico, geralmente veiculadas de forma equivocada pelas redes sociais. A professora Aline Drummond, organizadora do evento, afirmou que a loucura é um estigma. “As pessoas têm medo e associam à periculosidade e à incapacidade. O aluno que chega aqui também pensa dessa forma, e por isso precisamos quebrar esse pensamento para podermos oferecer cuidado e assistência a quem precisa”, disse.  

A participação dos usuários dos serviços de saúde mental é um diferencial na dinâmica do evento. Os integrantes do Capsad e Ateliê Gaia apresentam, tocam e cantam suas produções artísticas.. A professora Aline acrescenta ainda: “Durante anos, essas pessoas ficam trancadas em hospícios, e de lá muito poucos saíam. Com a Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial, fechamos os asilos. Porém, mesmo sem  essas estruturas hospitalares, ainda há o pensamento manicomial. Minha intenção é que as pessoas possam vê-los na sua humanidade.”

Na parte da manhã, o evento contou com a conferência do professor Luciano Elia sobre a atenção psicossocial lida pela psicanálise e o lançamento  do livro “Um escultor da palavra no avesso da comunicação”, pela professora Gloria Sadala. Além disso, o evento contou com apresentações musicais do grupo Harmonia Enlouquece e exposições de trabalhos artísticos.

À tarde, houve uma mesa aberta  que tinha como foco a participação dos assistentes, apresentação do grupo Originais do Mussum e diversos mini cursos mediados pelos professores palestrantes e colaboradores. O evento encerrou com uma conferência “Do asilo ao parque: um museu que transforma espaço” e uma feirinha para a venda e exposição de arte dos usuários, a fim de arrecadar fundos para a rede de saúde mental.

A respeito das telas pintadas, a professora Patrícia Peres destacou que elas são como remédios para as pessoas portadoras de sofrimento grave. “Nessas produções há um apaziguamento do  gozo. Podemos perceber que eles ficam  mais calmos, mais tranquilos. O que eles conseguem produzir ali não é uma arte que nossos olhos estão vendo, mas a realidade deles, da vida deles “, comentou a educadora.

Os eventos que acontecem no dia da Luta Antimanicomial nas universidades fornecem uma oportunidade para que os estudantes e futuros profissionais da saúde mental desenvolvam uma reflexão crítica sobre as práticas manicomiais tradicionais, bem como conheçam o quanto a inclusão e a resistência por práticas mais humanizadas no tratamento de pessoa com sofrimento psíquico são importantes para a sociedade.

Larissa Moraes  e  Eduarda Vila Nova – 1° Período 

 

Deixe um comentário

Tendência