Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas há mais de 11 milhões de mães que estão cuidando de seus filhos sozinhas no Brasil. O número de mães solo aumentou em 17,8% na última década
Em meio ao cenário de desafios socioeconômicos crescentes no Brasil, mais de 11 milhões de mães solos enfrentam diariamente a árdua tarefa de criar seus filhos sem apoio do parceiro. Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Uma pesquisa conduzida pelo Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) em 2024, revelou também um aumento significativo de 1,7 milhão no número de mães que assumiram a criação dos filhos de forma independente no período entre 2012 e 2022, elevando o total de 9,6 milhões para 11,3 milhões. À medida que o Dia das Mães se aproxima, a realidade dessas mães solo evidencia uma luta contínua por reconhecimento e apoio em uma sociedade que ainda busca equilibrar responsabilidades familiares e oportunidades econômicas.
No Brasil, ser mãe solo é uma realidade desafiadora, de acordo com o SPM (Secretaria de Políticas para as Mulheres) publicada em 2023, milhões de mulheres enfrentam diariamente esse problema. Entretanto, as mulheres, muitas vezes, assumem múltiplos papéis dentro do núcleo familiar, equilibrando responsabilidades domésticas, financeiras e parentais sem o suporte de um parceiro. Com isso, a jornada das mães solo é marcada por uma mistura de força, resiliência e sacrifício ao criar os filhos, devido a falta de suporte financeiro que é uma das principais dificuldades enfrentadas pelas mães. Muitas vezes, as mulheres precisam trabalhar em múltiplos empregos para sustentar as famílias, com jornadas exaustivas e salários insuficientes. A desigualdade de gênero no mercado de trabalho também representa um obstáculo significativo, com limitações nas oportunidades de ascensão profissional para as mães.
Além dos desafios financeiros, as mães solo frequentemente lidam com o estigma social e a falta de apoio emocional, uma realidade com jornadas complexas. A pressão social sobre as mães é exacerbada por uma série de fatores, incluindo normas culturais e estereótipos de gênero persistentes. Em uma sociedade onde a maternidade é romantizada e idealizada como um papel compartilhado, as mães que enfrentam a jornada sozinhas são muitas vezes vistas como falhas ou incompletas. No entanto, pode gerar um ciclo de isolamento e solidão para as mães, que muitas vezes se encontram lutando não apenas contra as adversidades práticas da vida cotidiana, mas também contra a sensação de não pertencimento e falta de apoio emocional.
Para Karen Oliveira, uma técnica de enfermagem de 26 anos e mãe solo do primeiro filho, compartilha a realidade do preconceito que enfrentou durante os estudos logo após o nascimento do filho. “Quando o meu filho nasceu, eu fui estudar, não demorei para voltar, entretanto, meus seios estavam cheios de leite e ouvi comentários como: ‘não era para você está aqui, e sim em casa’ e aquilo acabou comigo, pois eu gosto de estudar e ter que ouvir essa frase me deixou triste”, relata a jovem Karen Oliveira.
A psicologia também desempenha um papel no entendimento e apoio às mães solo. Profissionais da área estão cientes dos desafios emocionais que as mulheres enfrentam, desde o estresse no abandono até o isolamento social. Por meio de abordagens terapêuticas como a terapia cognitivo-comportamental e o apoio psicossocial, psicólogos ajudam as mães solo a desenvolverem habilidades de enfrentamento, fortalecerem a autoestima e lidarem com a culpa associados à maternidade solitária.
Segundo a psicóloga Ondina Maria, quando uma mulher não possui uma rede de apoio sólida, o desejo de ter um filho muitas vezes emerge como uma tentativa de preencher um vazio existencial. Nesse contexto, a maternidade pode ser vista como uma busca por significado e conexão emocional, uma forma de preencher lacunas e encontrar um propósito na vida. A ausência de suporte social pode impulsionar as mulheres a buscarem na maternidade uma fonte de realização pessoal e afetiva, que destaca a importância de abordagens na compreensão e no apoio às mães solo. “Ela não espera se casar ou que outra pessoa venha ao socorro dela, a mulher vai tentar preencher esse vazio e acabada tornando uma mãe solo, mesmo não tendo essa estrutura de apoio” , comenta Ondina Maria.
Por outro lado, alguns pais ausentes, que não participaram da criação dos filhos, entram na vida das crianças durante a adolescência. A falta de presença paterna durante os primeiros anos de vida da criança pode criar um vácuo emocional que alguns pais tentam preencher mais tarde, aproveitando da vulnerabilidade e das questões típicas da adolescência para minar o relacionamento mãe-filho. A professora e funcionária pública Bárbara Sotinho compartilha a própria perspectiva sobre a dinâmica entre ela, o filho e o ex-marido. Em uma sociedade que muitas vezes idealiza padrões familiares tradicionais, ela enfrenta desafios ao equilibrar a vida como mãe solo e a interação com o pai de seu filho. “Quem faz o papel de ter outra voz de comando para auxiliar na educação do meu filho é a minha mãe, pois é muito difícil educar, já que eu falo uma coisa por eu ser separada, e o pai do meu filho para me confortar diz outra coisa, querendo me ferir e atingir usando a criança”, dizBárbara.
Nem sempre é uma escolha, ou nem sempre é uma escolha fácil, mas a maternidade solo pode ter suas vantagens. Vanice de Oliveira, autônoma, acredita que sim. Mesmo com a rotina antiga que era tomada pelo cuidado com a filha, se sente mais feliz hoje em dia em relação aos melhores momentos entre mãe e filha que tiveram no início do processo. “As emoções estavam sempre presentes no processo de desenvolvimento, pois mesmo diante das dificuldades, percebia que minha filha estava crescendo, e me sentia gratificada por conseguir criar e viver uma vida que, apesar dos obstáculos, eu estava conseguindo criar-lá,” finaliza Vanice.
Seja qual for o caminho que levou a mulher a exercer uma maternidade solo, é fundamental que a sociedade respeite o espaço e a trajetória. Em vez de julgar, é essencial oferecer apoio prático e reconhecer a coragem junto com a resiliência que as mães demonstram diariamente. Acolher uma mãe solo significa estar disposto a ajudar no que for preciso, seja com tarefas cotidianas, cuidados com os filhos ou simplesmente oferecendo um ombro amigo para desabafar. É importante compreender que essas mulheres enfrentam uma carga mental intensa ao lidar sozinhas com uma rotina exaustiva, e qualquer gesto de solidariedade pode fazer toda a diferença em sua jornada. Ao estender uma rede de apoio, promovem uma cultura de empatia e inclusão.
Júlia Gabriela – 6º Período








Deixe um comentário