Segundo os últimos levantamentos do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 3,4 milhões de cães e gatos se encontram em condição de abandono nas ruas
Tiquinho, um filhote de gato que por um tempo esteve em estado de abandono, foi encontrado na rua com ferimentos e acolhido por uma família. Em busca da luta a favor da causa animal, o mês de Abril foi separado para a conscientização contra os maus tratos contra os animais e destaca a importância da prevenção desses crimes.
Com menos de um mês de vida, Tiquinho passou por um processo de recuperação, após uma cirurgia nos olhos que resultou na retirada dos dois globos oculares. Seu atual tutor, Marcos Holanda, acompanhou todo esse processo de perto. O ator conta das dificuldades que teve que enfrentar por conta das consequências do abandono. “Após a chegada dele em casa, tivemos que comparecer ao veterinário de 15 em 15 dias para a realização da drenagem nos olhos. Foi um processo difícil de controlar, pois o processo de cicatrização é muito longo e complicado”, conta.
Nesse processo, ele compartilha a evolução de Tiquinho por meio das redes sociais, sensibilizando outras pessoas a tomarem a mesma atitude e acrescenta: “Não tem preço ver as fotos de quando ele estava operado e de como ele está agora. É uma satisfação e vontade de fazer isso por todos que se encontram nessa situação. Todos os dias estou nessa batalha, não dá para se esconder desse movimento. Não podemos fazer só pelos seus, mas sim por todos”, celebra o tutor.
Muitos animais que passaram por maus tratos dificilmente são adotados, mas Marcos afirma que é possível a adoção de um animal que foi vítima de maus tratos e abandono. E que apesar do que seu gato passou, com os cuidados adequados, ele vive como um gato normal que brinca, pula, socializa de forma independente e vem superando todos os dias as dificuldades mesmo não podendo enxergar.
As vítimas desses maus tratos geram sequelas emocionais e comportamentais que podem ser profundas e duradouras. Muitos que passaram por situações de violência emocional e física podem desenvolver comportamentos agressivos, depressão e até mesmo ansiedade extrema. Os animais que sofreram esses danos podem se sentir inseguros, com medo constante e incapazes de confiar nas pessoas ao seu redor, afetando drasticamente sua qualidade de vida.
De acordo com a Coordenadora do curso de Medicina Veterinária, Professora Cristina Amarante, os maus-tratos físicos contra animais abrangem uma série de ações, como privação de comida, água e abrigo, agressão física, acorrentamento prolongado, condições insalubres e métodos cruéis de controle comportamental. “Por outro lado, os maus-tratos emocionais surgem em formas como isolamento, negligência afetiva e exposição a situações de medo e estresse contínuos”, acrescenta.
A coordenadora ressalta que os sinais não podem passar despercebidos e pontua as atenções que devem ser tomadas em prol do bem-estar dos animais. Ela enfatiza ainda a importância de observar atentamente e identificar qualquer sinal de sofrimento. “É crucial estar atento a sinais físicos e comportamentais que podem indicar possíveis casos de crueldade”, diz Cristina.
Outros sinais de alerta incluem expressões de angústia, como choro e latidos incessantes. “A desnutrição, por exemplo, é um dos indicadores mais visíveis de maus-tratos, assim como a com a falta de acesso a água limpa e fresca. Além disso, comportamentos como isolamento social e confinamento prolongado em coleiras podem apontar para situações de crueldade”, conta.
De acordo com esse cenário de crueldade, o mês de Abril foi selecionado para trazer conscientização a essa causa contra a violência e abandono aos animais. Abril Laranja é uma campanha promovida pela ASPCA – Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra Animais – e ganhou força no estado do Rio de Janeiro por meio de uma iniciativa legislativa. Com a oportunidade de destacar a crueldade enfrentada por muitos cães, gatos e cavalos, que são frequentemente as principais vítimas, a Lei 10.279/24 foi estabelecida para a prevenção e combate à crueldade aos animais, ações de conscientização e integrar ao calendário oficial de datas e eventos do estado do Rio de Janeiro.
O Deputado Estadual Prof. Josemar, autor da lei sancionada, destaca que a iniciativa teve origem a partir de discussões sobre o tema, em colaboração com um coletivo de protetores de animais. Este grupo trabalha em conjunto com o deputado para realizar ações sociais em prol dos animais, como resgates, acompanhamentos e serviços de castração. E destaca que o objetivo é combater os maus tratos e lutando pela conscientização da população com aumento das políticas públicas.
De acordo com o Programa Linha Verde, do Disque Denúncia, 3.135 denúncias de crueldade contra animais foram registradas em todo o estado do Rio de Janeiro desde o início deste ano, um aumento de 5% em relação aos registros do primeiro trimestre do ano anterior. Diante dos números alarmantes, o Deputado afirma que um dos maiores desafios é o de fazer com que a proteção animal venha ser uma questão importante e que as pessoas olhem com a seriedade que ela merece. “Não se trata de uma pauta boba ou como uma pauta menor. É uma pauta que tratamos com muita seriedade, primeiro pelo amor aos animais, mas também pela saúde pública. Os animais são importantes e se não forem tratados ou não cuidados, serão focos de zoonose e nós temos muita preocupação com isso”, disse.
O Deputado também destaca o papel da sociedade em garantir a preservação e o cuidado com os animais. Ele ressalta que qualquer avanço nessa área propõe uma abordagem que leve a considerar a interação entre seres humanos e natureza. “Vivemos numa sociedade que precisa avançar, o mundo dos humanos não será melhor e nem o mundo dos animais, pois tem que existir a relação dialética entre o ser humano e a natureza, se não for bom para ambos. O processo exploratório ambiental é um processo exploratório sobre os animais e sobre os seres humanos”, finaliza.
Giulia Karol Nascimento – 3º Período









Deixe um comentário