Autodestrutivo, órfão de mãe e distante do pai, Sam (George Ferrier), que vive criando problemas na escola junto com seus amigos beberrões, por mais uma vez pensa em pôr fim à própria vida.

É nesse contexto em que Ruth (Charlotte Rampling), sua avó, chega para mudar tudo; veterana de guerra, alcoólatra e com a perna quebrada por conta da vida boêmia que vive, a relação entre os dois de início é uma tempestade, mas que rapidamente passa quando percebem ter mais em comum do que acreditavam. 

Dirigido e roteirizado por Matthew Saville, a matriarca conduz a narrativa com um roteiro primoroso. A trama envolvendo avó e neto nos cativa e produz sentimentos curiosos, seja pela antipatia que temos por ambos os personagens de início, seja pelos laços que os dois constroem enquanto assistimos a animosidade parental se transformar em amizade sincera e verdadeira. 

A fotografia é outro elemento que nos brinda com paisagens Neozelandesas bucólicas, onde o ar de solidão e silêncio se apresentam em meio aos vales e ravinas emolduradas pelos contrastes do céu no outono. 

Já a direção de Saville é pontual e leve, permitindo que os protagonistas criem vínculos entre si enquanto também os constroem com o público. Muito pelo elenco espontâneo e verossímil que perpassa da arrogância para a intimidade, criando vínculos que realmente funcionam em tela, e promovendo uma reflexão sobre conflitos familiares geracionais que em muitas ocasiões apenas se solucionam pelo confronto direto.

A estética noventista do longa, mesmo discreta, fornece um ar nostálgico como se o filme fosse uma lembrança muito pessoal em se tratando da convivência do diretor e roteirista com sua própria família; quase como um diário de tempos complexos ou uma memória distante, mas onipresente.

Já a trilha sonora singela evoca uma delicadeza sem par, como se cada cena fosse pensada a partir de uma melodia específica. 

A Matriarca é uma grata surpresa pós Oscar. Uma história profunda, interessante e verdadeira. Quase como um pedido de desculpas e ao mesmo tempo um perdão às cicatrizes de família que todos carregamos.

Assista ao trailer!

Vitor Luiz Leite — 3º Período

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