“Pedágio”, o segundo longa-metragem de Carolina Markowicz (Carvão), chega aos cinemas brasileiros com diversas credenciais, com prêmios de melhor filme no Festival de Roma e foi premiado no Festival do Rio com três das quatro principais categorias de atuação (Melhor atriz, ator e atriz coadjuvante). Além da passagem por vitrines de prestígio no meio cinematográfico, incluindo o concorrido Festival de Toronto e Mostra de São Paulo, um dos principais eventos de cinema da América Latina. A produção gira em torno de uma funcionária de um pedágio que, ao não respeitar a orientação sexual do filho, decide realizar uma medida extrema.
Suelen (Maeve Jinkings) possui uma rotina atribulada e precisa conciliar a vida de mãe-solo com as atividades diárias de cobradora de pedágio, mesmo com as dificuldades impostas na rotina, tudo parece ir bem. Até que alguns vídeos a caráter do filho, Tiquinho (Kauan Alvarenga) começam a circular para colegas de trabalho. Inconformada, ela procura uma igreja que oferece um serviço de “cura para desviados”, entretanto, ao não ter recursos para pagar o custo, a mãe do garoto decide por uma medida que vai contra todos os princípios morais da sociedade.

Foto: Divulgação
A película reafirma a preocupação e a diversidade do cinema brasileiro contemporâneo em trabalhar novas óticas em uma produção com uma narrativa LGBTQIA+. “Pedágio” aborda questões sensíveis e particulares como a inconformidade em aceitar a orientação sexual dos filhos dentro do principal núcleo familiar, a influência de terceiros e a intolerância religiosa e questões tangenciais como a influência das redes sociais e do compartilhamento instantâneo de vídeos e fotos, como o WhatsApp, Twitter e Instagram. As situações recorrentes no cotidiano e noticiários, ganham nesta produção outros contornos pelo humor ácido e irônico, que brinca com as expectativas, algo marcante no longa anterior da diretora, e reforça um lado inusitado do comportamento humano, mesmo que dúbio e imoral.
A fotografia de Pedágio, assinada por Luís Armando Arteaga, explora uma variedade de tonalidades e momentos que vão desde uma paleta mais fria, cinzenta para cenas de trabalho e momentos externos da cidade, até para cores mais vibrantes como o vermelho e o rosa, em especial nas cenas de apresentações e alguns momentos vividos por Tiquinho para reforçar a identidade dele. A direção de arte e figurino traz componentes ricos que mesclam entre a simplicidade e a extravagância.
As atuações são um brilho à parte do filme, que conta com uma atuação forte e chamativa de Kauan Alvarenga que chama para si as demandas, as dúvidas, dores e desejos do personagem, Maeve Jinkings também mostra muito domínio ao interpretar uma mãe complexa e ambígua e passeia pelas diversas camadas de Suelen. Já Aline Marta Maia, empresta carisma e intensidade para um papel de essência volátil.
“Pedágio” pode decepcionar alguns espectadores pelas características do humor ácido, porém tem potencial de provocar pensamentos e reflexões com o público, em especial o mais jovem. Distribuído pela Paris Filmes, a obra pode ser conferida nos cinemas, a partir do dia 30/11 (quinta-feira). Assista ao trailer!
Márcio Weber — 3° Período






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