O tabu em cima da temática família é um dos obstáculos para o debate apropriado sobre o abuso sofrido dentro de casa. Observação de atitudes e a procura de um psicólogo são recomendadas por especialistas para a identificação adequada.
Família é uma palavra associada a conforto, confiabilidade e cumplicidade. Na teoria é um ambiente em que todos se apoiam e aspiram pelo sucesso de cada um de seus membros. Mas não é a realidade de todos. Problemas familiares são comuns, desentendimentos e mal-entendidos fazem parte da convivência, porém em alguns casos vai muito além disso. Quando as pessoas se sentem constantemente menosprezadas, desrespeitadas e não valorizadas no ambiente familiar, pode ser a indicação da existência de um relacionamento abusivo.
Há diferentes modos de educar os filhos. “Existem estilos parentais que são o negligente, autoritário, permissivo e democrático, cada um com sua maneira de criar e se relacionar com os filhos, cada uma pode oferecer aos filhos prós e contras nesse processo de desenvolvimento”, disse a psicóloga clínica Fabiele Roberta dos Santos de Melo. O futuro dos filhos é diretamente afetado pela criação em casa. Os pais têm o papel de direcioná-los e prepará-los para os estágios da vida, e diferentes criações formam diferentes indivíduos. Relacionamentos abusivos em ambiente familiar são mais frequentes do que se imagina, e Fabiele ressalta que os abusos são variados. “Existem ao menos quatro tipos de abuso, sendo eles a negligência, abuso psicológico, físico e sexual”, ressalta a psicóloga.
Muitos sinais e comportamentos indicam esse tipo de relacionamento. “Segundo pesquisas é necessário analisar as seguintes características como a manipulação dos filhos, disciplina rigorosa, chantagem psicológica, controle pela culpa, necessidade excessiva que o filho sempre faça aquilo que deseja, estimular a dependência, não permitir que os filhos sejam independentes e autônomos, amigos e namorados (as) são vistos como inimigos”, complementa Fabiele.
A psicóloga analisa que a maioria dos responsáveis têm boa intenção na criação dos filhos e não possuem consciência dos atos abusivos. Por isso, é necessário observar quais atitudes passam dos limites. Um profissional pode ajudar os pais a ter autoconhecimento e desenvolvimento pessoal no intuito de criar um ambiente mais saudável para todos.
Relacionamentos abusivos deixam marcas e o maior prejuízo para as vítimas é o comprometimento da saúde mental. Com pais controladores, por exemplo, os filhos não desenvolvem o poder de tomar as próprias decisões. “Entre outros sintomas encontram-se a incapacidade de resolução de problemas, imaturidade para a vida adulta e dificuldade com relacionamentos inclusive amorosos”, explica Fabiele.
O processo para quebra de ciclos dos abusos é demorado, pois as vítimas podem sentir medo de perder os pais. Amigos e familiares que querem ajudar precisam ser pacientes e solícitos, uma vez que a única pessoa que pode realmente buscar a saída é a própria vítima. “Pessoas podem auxiliar nestes casos sendo empáticas, ouvindo quem está nessa situação, indicando a procura por ajuda profissional”, revela a psicóloga.
Abuso em ambiente familiar é um tópico sensível e pouco discutido. Fabiele acredita que o assunto deveria ser mais debatido, visto que pode trazer muitos benefícios. “Há uma necessidade de se discutir mais sobre o tema ‘pais controladores’. Tanto por parte de pesquisadores, quanto por famílias e escolas — a fim de contribuir para um ambiente mais saudável com qualidade de vida para os filhos, que são os mais afetados. Mas também para auxiliar os pais na trajetória de criar os filhos sem exercer tanto controle sobre os mesmos”, disse ela.
Os relatos de celebridades que lidaram com familiares abusivos incentivam outras vítimas a trazerem à tona suas histórias de vida, já que elas se identificam com quem compartilhou as próprias dores. Para a psicóloga, esses relatos estimulam a busca por ajuda psicológica. “Ao relatar que ela precisou e procurou auxílio diante da situação enfrentada, ela pode influenciar outras pessoas a procurarem ajuda”, analisa Fabiele.
A mídia tem um grande papel na conscientização sobre o assunto devido ao grande alcance da internet. “As mídias são uma fonte que podem ser exploradas para levar conhecimento à sociedade. As redes sociais como Facebook e Instagram, podem ajudar na propagação da informação. É necessário um cuidado ao levar a informação para que ela seja recebida de maneira segura e de forma que facilite a identificação e a prevenção destes casos”, complementou ela.
Fabiele enfatiza a importância de histórias que tragam representatividade para a sensibilização do público a respeito do tópico. “É muito importante que a mídia através de filmes e séries aborde os temas atuais como uma forma de conscientizar a população do que estamos vivendo. Claro que com um certo cuidado para não gerar gatilhos, a intenção é levar a informação e a prevenção para esses casos”, concluiu a psicóloga. Com a informação correta, é possível levar a discussão e a conscientização a diversas pessoas e difundir cada vez mais o assunto.
Luiza Moura — 4° Período
*Produto produzido para a disciplina de Jornalismo online, sob a supervisão da professora Michele Vieira.






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