“Vai e Vem” é um documentário experimental que chega aos cinemas brasileiros e recebe a direção colaborativa entre duas cineastas, Chica Barbosa e Fernanda Pessoa. A obra teve passagens por mais de 20 festivais de todo mundo, sendo o filme de abertura do Olhar de Cinema, em Curitiba, além de exibições no Sheffield Doc/Fest (Inglaterra), Cinélatino Toulouse (França), Dok Leipzig (Alemanha), Queer Lisboa (Portugal). A temática gira em torno de correspondências entre duas mulheres em dois países diferentes durante a pandemia da Covid-19.

Foto: Divulgação

O ano de 2020 registra uma crise humanitária sem precedentes recentes, a epidemia provocou transformações em escala global e provocou impactos em múltiplas áreas da sociedade, como a política, econômica e cultural. Chica Barbosa está em Los Angeles, enquanto Fernando Pessoa, São Paulo, ambas estão em diferentes realidades políticas e geográficas, mas a possibilidade da correspondência por vídeo cartas permite novas formas de lidar com a vida.

A interação entre as duas cineastas foi composta apenas pelas expressões audiovisuais que poderia ser com um prazo de três semanas para as respostas, a experimentação vem da influência estética de 14 realizadoras experimentais. Fazendo com que a forma de “Vai e Vem” apresente diferentes técnicas de captação de imagens que misturam imagens digitais, analógicas e mudanças de formato, Fernanda e Chica, não se restringiram apenas aos comentários sobre questões factuais, mas também sobre questões que envolviam relacionamento, sexualidade e revelações íntimas em trocas poéticas.

O lirismo das palavras e o ritmo que abarcam sensações e emoções variadas, desde momentos mais reflexivos e contemplativos, a retratos objetivos que mostram diversas passagens históricas do passado recente. Apesar de evocar questões tão sensíveis e o documentário apresentar uma visão identitária das duas cineastas, existe uma barreira temática pelo excesso de exposição que tivemos à Covid-19, seja em noticiários, nas interações sociais, mas também no meio cinematográfico. As diversas produções sobre o tema esbarravam em recursos, abordagens e tendências que não conseguem ser atenuadas, até pelo tempo curto entre a pandemia e o momento de lançamento do filme. Grande parte dos pensamentos são diluídos à medida que explora em questões já datadas.

A montagem é o elemento mais presente no filme que tenta estabelecer uma unidade de momentos e situações particulares, guiadas com a inclinação do documentário das duas cineastas que não apenas emprestam a voz e questões particulares, como aparecem em diversos momentos. Os elementos sonoros e as músicas presentes no filme acompanham as falas e ajudam a guiar as emoções verbalizadas pelas diretoras.

“Vai e Vem” pode atrair espectadores dispostos a embarcar na jornada emocional e poética das diretoras, embora possa afastar possíveis interessados por tratar de um tópico sem grandes fatores inéditos e discutido à exaustão por diversos veículos e meios de expressão. Assista ao trailer!


Márcio Weber — 3° Período



Deixe um comentário

Tendência