Especialistas comentam sobre a tendência que reflete o estilo de vida moderno
Ao explorar o feed infinito do TikTok, repleto de ‘dancinhas’ virais e vídeos personalizados de acordo com o gosto de cada usuário, é possível perceber as músicas aceleradas tocando ao fundo. As ‘speed songs’, como são chamadas no Brasil, são modificações em faixas musicais já conhecidas, caracterizadas pelo som dois tons acima do original, mais acelerado e agudo.
Atualmente a hashtag ‘spedupsounds’ chega a mais de 20 bilhões de visualizações na plataforma. A tendência impacta diretamente a indústria musical, onde canções antigas voltam aos charts e estratégias de marketing tornam-se necessárias para acompanhar o movimento.
Um exemplo do “poder viral” do TikTok é a faixa ‘Sure Thing’, do cantor Miguel, lançada em 2010, que retornou aos charts após mais de dez anos desde o lançamento – conquistando o 1º lugar na Pop Radio, onde permaneceu por cinco semanas, e o marco na Billboard Hot 100 por mais de dez semanas. O grande sucesso aconteceu após a divulgação da versão em speed da canção, feita por um usuário da plataforma, que virou uma ‘trend’ no aplicativo, uma tendência de vídeos.
“O público busca algo novo, uma música nova todos os dias e, para o mercado, é muito mais fácil envelopar um hit antigo, em uma versão em speed, do que lançarem uma canção do zero”, destaca Ana Júlia Correard, que compõe o time de marketing da gravadora Sony Music.
A analista de marketing também reforça o impacto da “era nostálgica” vivida por esta geração, que pode ser identificada através do retorno das roupas dos anos 2000,
assim como hábitos antigos que se tornaram descolados novamente, como tirar fotos em câmeras analógicas ao invés de usar o celular. A inclinação para a cultura de algumas décadas atrás também impacta a música, onde canções antigas continuam fazendo sucesso e sendo renovadas sonoramente.
Por estar envolvida diretamente com o marketing estratégico na gravadora, Ana Júlia acompanhou o movimento musical no TikTok desde muito cedo, quando a plataforma ainda crescia durante a pandemia da Covid-19. A profissional esteve em contato com os grandes hits da empresa, que é responsável por nomes nacionais como Roberto Carlos, Pabllo Vittar, Turma do Pagode, assim como os artistas internacionais Beyoncé, Shakira, Britney Spears e tantos outros.
A profissional explica que, a partir do momento em que uma canção vira ‘trend’ no TikTok, o som que antes produzia apenas 10 ou 20 streams ao dia, passa a fazer 10 mil, 20 mil streams. Stream é a métrica usada para calcular o consumo da música, onde dá-se um stream a cada 30 segundos ouvindo a faixa. Por isso, a indústria musical e grandes produtoras têm focado campanhas midiáticas no aplicativo chinês de vídeos.
“Alguns artistas não entendem a necessidade de estarem ativos no mundo digital e gravar conteúdos para a divulgação e marketing”, ressalta Correard, que nota a dificuldade de artistas que estão há mais tempo no cenário musical para se inserirem no movimento dinâmico das redes.
Beatrice é uma artista independente que decidiu focar em conteúdos para o TikTok após o lançamento da segunda canção autoral, ‘Tururu’, que viralizou na plataforma e contabilizou cerca de 6 mil utilizações do som. A carioca posta sobre diferentes assuntos, como: relatos da jornada como artista independente, covers com violão e voz, divulgações em torno de novas canções próprias, rotina e muito mais.
“Eu uso algumas estratégias com o meu produtor, de pré-lançamento, onde postamos a música acelerada, porque é uma tendência no TikTok, então o artista precisa seguir esse movimento também. Ajuda muito no engajamento”, conta Beatrice. A artista relata que o pré-lançamento da canção autoral, ‘Amantes Imperfeitos’ aconteceu também através da divulgação da versão acelerada. “Estou até pensando em fazer uma versão em speed da próxima música que vou lançar agora em novembro, chamada ‘Não era pra ser’. As versões speed up funcionam na plataforma, já que é o que o público está acostumado a consumir”, completa a compositora.
O produtor musical Rodolfo Amorim é destaque no cenário do funk brasileiro e responsável por grandes hits, como a canção ‘Tipo Gin’, de Kevin o Chris, que foi a faixa mais tocada de 2021. O profissional aponta que as canções speed up são uma ótima ferramenta para impulsionar o engajamento de canções já lançadas. “Devido ao grande consumo da música, seu tempo de vida tem diminuído. Um funk, hoje em dia, dura apenas 45 dias, enquanto seu tempo mais longo de vida é 90 dias. Com a versão acelerada, a música tem um aumento de streams e seu tempo de vida é um pouco prolongado”, explica o produtor da RM No Beat.
O ciclo de vida da música é marcado pela ascensão e declínio das faixas, que alcançam um período de sucesso após o lançamento, até caírem no esquecimento conforme outras produções ficam mais populares e atingem os primeiros lugares nos charts. Por isso, as versões aceleradas são uma estratégia atual para estender o tempo de vida das canções.
Déborah Gama — 4° Período
*Produto produzido para a disciplina de Jornalismo online, sob a supervisão da professora Michele Vieira.








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