Saúde mental ainda é um tabu para pessoas com mais de 60 anos. A educação de idosos sobre o assunto pode auxiliar no aumento da expectativa de vida.

A taxa de mortalidade no Brasil está em queda e devido a um conjunto de elementos que impulsionam a expectativa de vida, que atualmente é de 77 anos, a população idosa do país tem vivido mais. Mesmo com a qualidade de vida um pouco melhor em comparação com décadas passadas, há questões que estão se tornando mais constantes na sociedade. Mesmo o Brasil sendo o quinto país mais depressivo do mundo segundo a OMS, saúde mental é um tópico ainda pouco discutido, pois envolve estigmas e isso tende a piorar quando se trata da terceira idade. De acordo com uma pesquisa do IBGE de 2019, a taxa de prevalência de depressão era maior em mulheres com percentual de 14,7% e em pessoas de 60 a 64 anos, sendo 13,2%.

Ondina Maria Alves de Almeida, psicóloga, psicopedagoga, e psicanalista relatou que há muitos fatores que podem gerar a depressão na terceira idade e que a proximidade da morte é uma delas devido a vivência da perda de amigos e entes queridos. “Uma pessoa idosa já perdeu muita gente conhecida então há um certo desânimo em relação a não haver perspectiva de futuro porque não importa se você vai viver um dia ou se vai viver um ano ou se você vai viver 20 anos, o que importa é que nós não sabemos a hora em que a gente vai morrer”, disse a psicóloga.

A depressão afeta de formas variadas a vida de uma pessoa idosa. A médica geriatra Roberta Bieler da Silva diz que é possível perceber os sintomas e que o tratamento desse paciente vai variar de acordo com sua demanda. “Nos pacientes depressivos precisamos observar o grau da depressão. E principalmente se há ideação suicida, pois nesses casos além do tratamento medicamentoso e psicoterapia, precisam de acompanhamento constante até que haja melhora clínica”, analisou a geriatra.

A depressão em mulheres tem muitos motivos e Ondina citou a entrada na menopausa como uma das causas devido às diversas mudanças que a mulher sofre nesse período. “A menopausa desencadeia um processo de depressão porque ela anuncia para a mulher que ela não será mais capaz de gerar filhos. Que é como se a capacidade menstrual de gerar filhos desse a ela ainda essa noção de que ela está pelo menos ainda produzindo, ela está numa fase mais nova, capaz”, esclareceu Ondina.

Outra causa para os altos números de depressão em mulheres é mais conhecido e bastante discutido no meio feminino: a sobrecarga de tarefas. “As mulheres têm a jornada de trabalho fora de casa e ainda quando chegam em casa elas vão fazer dever com os filhos, elas que vão cuidar da comida, elas que arrumam a casa, elas que vão cuidar da roupa, então, elas acabam tendo obrigações que dobram a jornada de trabalho então quando elas vão entrando na meia idade elas vão ficando muito cansadas. A gente tem vários motivos, mas a grosso modo a gente tem essas situações que são muito clássicas”, analisou a psicóloga.

Em casos mais extremos pode haver suicídios, mas Ondina explica que não é tão comum uma pessoa na terceira idade cometer suicídio e que as tendências suicidas não surgem de repente. “A tendência suicida não nasce de uma hora para outra a não ser quando existe uma situação muito pesada para essa pessoa. Por exemplo, uma mulher que perdeu um filho entra em depressão profunda e se ela não se tratar ela até pode chegar ao suicidio. Quando um idoso se suicida, ele vem já com todos os sintomas de uma pessoa suicida antes de ser idoso e aí aquilo chega num ponto que a terceira idade só acumula mais motivos para ele ficar desgostoso da vida”, explicou Ondina.

As doenças crônicas, como o Alzheimer, que vão surgindo com a idade também podem influenciar no desenvolvimento da depressão. Ondina recomenda que para estimular o sistema cognitivo de pessoas com mais de 50 é importante se manter ativo “Fazer exercícios, ter alimentação saudável, ter rotina, em relação a atividades que possam ser de uso dos dedos […] isso tem a ver com a inteligência e cognição. Lembrando que a inteligência é inata e a cognição é desenvolvida por mediação, por cultura, por aprendizagem. Então se eu tenho mais de 50 anos vou trabalhar, vou pintar, vou bordar, vou esculpir, vou tocar violão”, disse a psicóloga.

Esses pequenos estímulos diários são essenciais para a melhora na qualidade de vida da pessoa idosa, e Roberta  explicou que as consultas com um geriatra também podem ajudar a impulsionar a qualidade de vida do paciente. “Principalmente quando conseguimos entender o que está levando aquele idoso a depressão. E assim tentamos estratégias para minimizar esses impactos”, comentou a geriatra.

A psicologia e a geriatria agem em conjunto, e em casos de depressão a psicóloga explica que o trabalho emocional é importante para que não haja frustração e dificuldade em lidar com problemas. “As pessoas vão buscar o geriatra porque elas querem uma vida melhor.

Então o psicólogo vai entrar para dar um apoio para essa questão emocional onde todo o emocional se apresenta sofrido, debilitado, instável ou insuficiente para dar a pessoa o mínimo de alegria, de condição de satisfação para viver, a gente vai trabalhar para que essa pessoa tenha o mínimo de qualidade de vida. Viver é superar problemas, o importante é a gente conseguir ter um pouco de harmonia dentro das dificuldades da vida para que a vida possa valer a pena”, concluiu Ondina.


Luiza Moura — 4° Período

*Produto produzido para a disciplina de Jornalismo online, sob a supervisão da professora Michele Vieira.

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