“Os Delinquentes” de Rodrigo Moreno (O Guardião) chega aos cinemas brasileiros, com o diferencial de ser o representante da Argentina no Oscar de 2024, além de ter recebido vitrines internacionais de exibição, destaque para o prestigiado Festival de Cannes. O filme foi exibido no Festival do Rio, há pouco mais de uma semana. A produção conta a história de um assalto à banco, mas que parece seguir caminhos fora do convencional.

Foto: Divulgação
Román (Esteban Bigliardi) e Morán (Daniel Elias), são dois bancários de meia-idade, cansados da falta de desafios e da remuneração baixa na crise econômica que assola Buenos Aires, para esse objetivo eles criam um plano: um assalto ao banco onde trabalham. Depois dessa decisão, a vida de ambos muda em diversos sentidos.
As histórias envolvendo delitos, crimes e desvios morais na sociedade apresentam diversos exemplares de sucessos de público, no cinema argentino isso é ainda mais visível por produções populares e foram distribuídos ou estão/estiveram no catálogo de streamings como “O Segredo dos Seus Olhos”, “Nove Rainhas”, “O Clã”, criam histórias ligadas de forma direta ao imaginário da criminalidade, com diferentes abordagens e estilos, mas com o crime no centro da história. Bem próximo da nova produção de Rodrigo Moreno, que tem como pano de fundo a história de um assalto a banco, mas caminha por tendências e rumos diferentes das convenções do gênero.
O assalto não é desimportante para a trama e ajuda a conduzir a relação e os percursos dos dois personagens centrais que escolheram uma situação que gera consequências como um caminho sem volta, mas o que deixa o filme seguir por caminhos diferentes são um ritmo contemplativo e lento e um humor de situações absurdas e inesperadas. Portanto, o longa apresenta quebras de expectativas e traz surpresas, ao mesmo tempo que não abandona a psicologia e o desenvolvimento comportamental de Román e Morán, colocando o espectador em uma odisseia difícil de prever os próximos passos, mesmo que para muitos não faça muito sentido essa jornada.
A fotografia é o principal atrativo do longa-metragem que se beneficia dos espaços e das possibilidades da região filmada e converte essas características com precisão e controle, entre composições rigorosas, com ajustes e contrastes entre a luminosidade dos espaços desenvolvidas com apuro técnico que reforça essa ideia contraditória de oposições, muito presente na narrativa. A montagem é um elo vital para contar essa história e dar conta dos diferentes momentos, tons e reforçando alguns efeitos enunciados pela condução particular de Rodrigo Moreno.
O diretor faz uso de alguns elementos cênicos para reforçar alguns tons, como uma ideia de repetição, entre variadas cenas de andanças, ações continuadas que voltam em momentos particulares, ampliadas pela forma visual detalhista e controlada em que vários símbolos, objetos de cena são ressaltados que dão um ar bem característico e específico para a produção;
A música é um ponto muito presente que ajuda a criar uma sensação de jornada e vai de uma música clássica em composições de música clássica regionais presentes no tango argentino, como as de Astor Piazzolla, e principalmente a presença do rock psicodélico da banda argentina Pappo’s Blues, que adicionam um toque diferente e particular para produção.
“Os Delinquentes” é um filme que pode instigar e desafiar o espectador, entretanto alguns aspectos e a natureza do longa-metragem podem distanciar muitas pessoas. O filme é distribuído pela Vitrine Filmes/Mubi e pode ser conferido nos cinemas, nesta quinta (26/10). Assista ao trailler!
Márcio Weber – 3° período






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