O segundo longa-metragem de Murilo Benício como diretor, se chama “Pérola”. O filme, assim como o anterior, “O Beijo no Asfalto”, é uma adaptação para os cinemas de um dos principais dramaturgos brasileiros, mas dessa vez, a obra é uma versão da peça homônima do autor Mauro Rasi. A história gira em torno das memórias de um escritor que relembra o relacionamento com a mãe, recém-falecida.

Foto: Divulgação/Marcinho Nunes

Pérola (Drica Moraes) é uma mulher firme, autêntica e de pulso forte. Ela é a matriarca de uma família próxima e unida do interior de São Paulo, na cidade de Bauru. Juntos eles passam por conflitos típicos de uma família de classe média, entre questões rotineiras, sonhos, desejos, atritos, dificuldades econômicas e reservam fortes emoções pela convivência com a linhagem dela, em especial com o filho, Mauro (Leonardo Fernandes).

O filme segue uma estrutura teatral com os atores muitas vezes centralizados, mudanças de cenas de uma forma rígida como a mudança de cenário no palco, outro fator que aproxima são as atuações expansivas e enfáticas dos atores e é contada de forma não cronológica com idas e vindas e modificações constantes na linha temporal da narrativa. Apesar da produção não esconder a influência do material base, existe um arco forte e universal que são a natureza afetiva e complexa de relacionamentos, não apenas entre mãe e filho, objeto central de discussão do roteiro, assim com diversos integrantes dessa família com muitas características regionais de uma cidade tradicional do estado de São Paulo

O regionalismo é um elemento vital para a narrativa, que não só cita por diversas vezes a cidade de Bauru, como os personagens apresentam sotaques carregados e com muita flexão de palavras. Porém, por muitos atores não serem de fato da região retratada, a busca desse elemento soa artificial e pouco natural para uma obra tão calcada na emoção. Alguns diálogos e recursos do roteiro parecem forçados a impactar na mensagem e na identificação do espectador com as pessoas retratadas pelo filme. Entretanto, o apelo universal de situações e a presença dos personagens, em especial da protagonista e a força dramática de diversas passagens conduzem emoções ao espectador até o fim.

A fotografia do filme traz um volume de cores e iluminações potentes que ditam a emoção na tela e os pigmentos quentes predominam nas cenas, tal característica remete ao prestigiado diretor espanhol Pedro Almodóvar, outro aspecto artístico que dialoga com o cineasta é a forte utilização da direção de arte e figurino para contar a história, existe um cuidado refinado na seleção de roupas dos atores com tons dos anos 70, muito coloridos, com diversos contornos e tons verossímeis, os espaços são organizados de forma criteriosa e contém elementos detalhados no interior dos ambientes com diversos adereços e composições chamativas.

O grande nome da produção é mesmo a atriz Drica Moraes, em uma presença de muita firmeza e empatia, encarna características identificáveis e empáticas para com o espectador, sendo alguém que se equivoca, cobra mais do que deveria, é por muitas vezes inconveniente. Mas transborda amor, preocupação, não se esconde nos momentos mais difíceis e fala o que tem de ser dito, por mais difícil que seja. Essas características defendidas com tanta força de presença pela atriz fazem com que ela se torne de fato, o principal destaque, porém, o elenco de apoio é regular e com interpretações corretas, entre elas a de Leonardo Fernandes, o co-protagonista do filme que consegue sustentar boas trocas com os colegas de cena e defender Mauro com momentos sensíveis, e Claudia Missura, que mesmo com pouco tempo de tela, traz emoções fortes de uma personagem com múltiplas camadas.

“Pérola” é um filme que trata de temas e pessoas que e podem gerar identificação com diversos tipos de espectadores, tocando com sensibilidade questões do cotidiano, da vida da classe média brasileira, e traz muitos arquétipos que podem ser reconhecidos por diversas pessoas ao redor do Brasil, mesmo que esbarra em alguns excessos narrativos. O filme tem distribuição da H20 Films e chega nesta quinta (28/09) nos cinemas brasileiros. Confira o trailler!


Márcio Weber – 3° período

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