Atrizes e cantores falam sobre desafios de seguir carreira artística no país
Esperança, incerteza, expectativa, frustração e fé. Esses são alguns dos sentimentos presentes na vida de quem sonha em viver e se sustentar no meio artístico. A arte existe desde os tempos mais remotos da humanidade, mas mesmo sendo um elemento tão consolidado e estabelecido no mundo, viver dela não é nada estável, muito menos garantido. No Brasil, país em que o setor cultural chega a compor 3,11% do PIB, de acordo com dados do Observatório Itaú Cultural em sua última pesquisa, há pouco incentivo e baixa valorização daqueles que fazem disso um ofício.
Como consequência, artistas independentes, por vezes, escolhem se especializar em outras áreas no início da carreira. É o caso do DJ Heinrick, de 23 anos, que atualmente trabalha com Marketing enquanto finaliza a faculdade de Publicidade e persegue o sonho de viver de música: “Então tenho meio que três coisas para conciliar, né?! A faculdade, o trabalho para pagar as contas e a arte que é um projeto que ainda não se sustenta mas que vem se encaminhando.”
Heinrick só queria ser DJ, porém se viu obrigado a estudar sobre a produção de eventos a fim de conseguir destacar seu trabalho: “Tive que começar a produzir meus próprios eventos para levar a minha arte para as pessoas“. Sua história é parecida com a de Ana Sant’ana, atriz atualmente em cartaz com a peça “Marilyn – por trás do espelho”. A artista conta que viu na produção uma possibilidade de sustento.
“Realmente trabalhar só como atriz é um caminho bem difícil. Você viver só de teatro é muito complicado, muito instável. Eu encontrei na produção esse lugar onde eu conseguia ter uma constante maior de trabalho, e nisso eu acabei trabalhando muito como produtora e graças a Deus não precisei mais trabalhar com outras coisas que não fossem o trabalho que eu escolhi pra viver“
Ana Sant’ana
No início de sua vida profissional, a atriz e produtora conta que já trabalhou em lojas e até restaurantes. É similar ao que conta Khyn Smith, cantora e compositora que atualmente canta em bares e outros eventos para sustentar a casa, mas já teve que combinar um trabalho de vendedora de loja com o sonho da música:
“A conciliação é terrível. Com dezoito anos vim pro Rio sozinha e fui trabalhar no shopping. Não sobrava nem criatividade, eu não tinha nem mente pra poder escrever, eu estava completamente sugada pela vida do brasileiro, né. De estar ali trabalhando enquanto eu só queria estar vivendo da minha arte”, diz a jovem.
Enquanto os sonhos não se concretizam, as dúvidas acumulam e, às vezes, abdicar das vontades se torna uma opção: “Em oito anos, claro que eu pensei em desistir. Várias vezes. Porque é muito difícil, é frustrante você lançar uma música e esperar uma coisa e não acontecer.” conta Khyn. Apesar disso, para quem tem arte nas veias, parar não é a alternativa. “Eu já desisti várias vezes, só que na verdade só na minha cabeça. Não tem como. É uma coisa que já tá dentro de mim, na minha veia. Não consigo ficar uma semana sem escrever alguma coisa pelo menos. Eu falo que realmente não tem plano B”.
Para alguns, o segredo é não esperar retorno. É o caso de Kobay: cantor, compositor e produtor que está há sete anos no meio musical e vê a música como, muitas vezes, egoísta por pedir tudo do artista e não garantir dar nada em troca. O jovem de 22 anos explica melhor como lida com suas expectativas no meio incerto da arte:
O mercado artístico, entretanto, sofreu drásticas mudanças, sobretudo depois da pandemia do coronavírus. Segundo um estudo realizado em 2020 pela “Winnin”, das dez músicas mais ouvidas no Spotify, sete viralizaram primeiro no TikTok. Vivendo atualmente na era digital, artistas conseguem agora um palco maior para mostrar suas obras, sem precisarem estar necessariamente vinculados a uma produtora. Priscila Buiar, vencedora do prêmio de Melhor Atriz de Drama na premiação Rio Webfest 2022 pela websérie brasileira Stupid Wife, tem certeza absoluta de que essa nova era da Internet ajuda a expandir o alcance de pequenos trabalhos com pouca verba para uma divulgação maior. Confira:
A atriz completa ainda que não acredita que exista idade nem um caminho certo para o sucesso. O mais importante, para ela, é a persistência: “Acho que não tem preço. Você pode construir cada coisinha com muito esforço e muita dedicação. Quando olho pra trás na minha trajetória fico muito orgulhosa do que eu construí e conquistei até agora.” diz.
Mariana Rangel – 2º período











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