“Retratos Fantasmas” é o quarto longa-metragem da carreira de Kleber Mendonça Filho. O currículo do cineasta acumula premiações, reconhecimento internacional, diversas matérias jornalísticas, dissertações acadêmicas, fazendo com que Mendonça Filho hoje seja um dos expoentes do cinema brasileiro mundo afora.

Foto: Divulgação
Logo no início do documentário é apresentado “Happy End”, uma música do compositor, Tom Zé, que fala: “Você fala que não, que não me entrega, que não me vende, que não me deixa, que não me larga, mas você deixa tudo. Deixou, Você deixa mágoa. Deixou. Você deixa frio, deixou e me deixa na rua, deixou” esses versos antecipam o tema do documentário: o fechamento de diversos cinemas de Recife.
A realidade do cinema de rua é uma alteração ao longo das últimas décadas. Em Recife, onde se passa a narrativa, já teve cerca de 28 cinemas que com as mudanças econômicas e processos urbanos foram sendo apagados. O documentário busca compreender qual é o espaço dessa memória na sociedade brasileira hoje.
Kleber Mendonça Filho traz uma abordagem intimista e narra todo documentário, entre imagens autobiográficas, bastidores de obra, cenas de outros filmes, imagens históricas de arquivo que vão se intercalando. A narração trata de questões objetivas, o cineasta se coloca como sujeito e interlocutor direto, todas as reflexões do filme passam pelas observações, lembranças e questões atravessadas pelo cineasta ao longo de sua trajetória de vida. Ele narra sem grandes alterações na voz, mas transparece melancolia e resignação, o texto é descritivo e efetua muitas associações, referências e citações culturais.
Entre a ascensão e o declínio das salas, o diretor Kléber Mendonça Filho traz as lembranças pessoais, a importância dos laços familiares, bastidores e registros da carreira e, em especial, como a cidade de Recife moldou e impacta a vida dele, não só como artista, mas como cidadão.
As argumentações trazidas pelo cineasta refletem nos dados estatísticos, de acordo com um levantamento de um dos principais agregadores virtuais do audiovisual brasileiro, o Tela Viva, 3206 salas de cinema estão distribuídas nos municípios do Brasil, isso corresponde a 7% do território nacional. A realidade é mais sintomática para as salas de cinema de rua que atravessam um período histórico negativo e muitos destes espaços enfrentam litígios e incertezas.
A linha temporal do filme faz saltos frequentes em diferentes períodos, com meios distintos. A amarração cuidadosa e instigante da montagem dá forma ao discurso. Outro fator importante é o tratamento musical que recebe músicas que incorporam brasilidade, contribuem no ritmo e dão mais possibilidades de leitura.
“Retratos Fantasmas” tem potencial de refletir um fenômeno que vai além do aspecto regional e pode ser comparado com muitas cidades ao redor do Brasil, pode agradar entusiastas do diretor que traz momentos e assinaturas de trabalhos anteriores, entretanto a gama de informação em um tratamento que não se propõe a ser direto pode afastar espectadores.
Exibido em junho no Festival de Cannes e teve participações no Festival de Nova York e no Festival de Gramado. A distribuição é da Vitrine Filmes e o longa-metragem pode ser conferido nesta quinta (24/08), nos cinemas. Assista ao trailler!
Márcio Weber – 3° período






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