Pela primeira vez com o esquema de 32 equipes, torneio terá a terceira final europeia na história
Quarta-feira à noite, Accor Stadium em Sydney. O relógio chegava aos 96 minutos de jogo quando a árbitra estadunidense Tori Penso apita pela última vez a semifinal entre Austrália e Inglaterra. No mesmo estádio, entre as mais de 75.700 pessoas, algumas jogadoras espanholas, entre elas Alexia Putellas, Jenni Hermoso e Misa Rodríguez assistiram na arquibancada a vitória da Inglaterra por 3×1 e descobriam as suas adversárias na grande final.
Na história da Copa do Mundo Feminina, apenas quatro países estiveram no lugar mais alto do pódio: Estados Unidos, Japão, Noruega e Alemanha. Em 2023, todas essas seleções foram eliminadas antes da semifinal.
A Espanha estreou na Copa do Mundo pelo Grupo C, junto com Japão, Zâmbia e Costa Rica. A seleção chegou ao torneio sob clima de tensão e protesto por parte das jogadoras do principal time feminino do país, o Barcelona.
O protesto das jogadoras foi direcionado ao técnico da seleção, Jorge Vilda. Las 15, como foram chamadas na época, é um grupo composto por jogadoras do Barcelona, Manchester United, Manchester City, Real Sociedad e Atlético de Madrid que pediram para a Federação Espanhola a demissão de Vilda, alegando que a “situação” dentro da seleção estava afetando a saúde física e mental.
A Federação apoiou o técnico e não acatou ao pedido das jogadoras. Entre as 15 que enviaram o e-mail na época, apenas três estão disputando a Copa do Mundo pela Espanha. A vencedora dos dois últimos Ballon d’Or, Alexia Putellas, que apoiou o protesto, também está com a seleção na Austrália
Para Amanda Viana, comentarista do Planeta Futebol Feminino e dos canais Nosso Futebol, a participação da Espanha na Copa é muito boa. Com destaque na produção ofensiva, na questão de volume de jogo, mas com problemas na parte defensiva, que para ela é o pior setor da equipe.
“Em termos de performance a equipe vem crescendo. O mata-mata da Espanha é muito interessante e chega na final com muito mérito”, completa. Para a comentarista, a Seleção possui três principais destaques: Teresa Abelleira, Jenni Hermoso e Salma Paralluelo.
Salma Paralluelo, 19 anos, fez o gol que classificou a seleção para a semifinal e, até 2022, dividia o tempo entre o futebol e o atletismo; a atacante do Barcelona, filha de imigrante, foi campeã europeia nos 400m com barreira e decidiu focar no futebol após ser contratada pelo clube azul-grená. “Ela tem sido a jogadora decisiva, mesmo não sendo titular em todos os jogos, mas tem tido um impacto muito grande quando sai do banco de reservas e gols decisivos contra Holanda e Suécia”, finaliza Amanda.
No lado inglês, as Lionesses são comandadas por Sarina Wiegman. A técnica é a primeira treinadora da história das Copas do Mundo, entre masculinas e femininas, a chegar à decisão de duas finais com seleções diferentes; em 2019, ela conduziu a seleção holandesa.
Diferente da equipe que a técnica montou na Eurocopa de 2022, Amanda Viana acredita que a Copa do Mundo mostrou o diferencial de Sarina, com a capacidade de encontrar soluções e fazer o time jogar bem. “A Sarina conseguiu reencontrar o equilíbrio desse time, um desafio muito grande quando a gente considera o contexto da Inglaterra na Eurocopa; grandes jogos, um time muito encaixado e agora sem peças importantes”
“Esse time teve que se adaptar o tempo todo. Antes do torneio, durante o torneio e nesse jogo mais uma vez. Como nós nos superamos e ganhamos de novo é incrível e estou muito orgulhosa delas”, comentou Sarina durante a coletiva de imprensa após a vitória nas semifinais.
A seleção da Inglaterra não pode contar com a sua capitã, Leah Williamson que está em recuperação de uma lesão por LCA, o ligamento cruzado anterior do joelho. Junto com Williamson, Beth Mead e Fran Kirby ficaram de fora da lista para a Copa e Keira Walsh sofreu com uma pancada no joelho durante o campeonato. O ligamento cruzado anterior ajuda a dar estabilidade ao joelho e quando há uma ruptura, o membro perde esse equilíbrio. O tratamento, geralmente, é cirúrgico acompanhado de fisioterapia.
O coordenador do curso de Educação Física na Universidade Veiga de Almeida, Álvaro Alves, explica que essa lesão é causada por torções no joelho ou uma rotação do fêmur sobre a tíbia. “Uma parada brusca, um contato direto com outro jogador e também o uso excessivo e desgaste natural das estruturas do joelho”, completa
O professor também complementa com a informação de que as mulheres são mais suscetíveis às lesões, devido às características anatômicas, questões hormonais e musculares. De acordo com o perfil ACL Women Football Club, que reúne e compartilha os números relacionados a esse tipo de lesão no futebol feminino, o número passa de 190 atletas afetadas por esse problema.
A Inglaterra chegou na Austrália como uma das favoritas. Campeã da Euro Copa 2022, a seleção, mesmo com ausências importantes, venceram quando tinham que vencer e conquistaram o maior desempenho das Lionesses em Copas.
A trajetória da Inglaterra, para Amanda, é de altos e baixos, com uma fase de grupos oscilante, com dois jogos ruins contra o Haiti e a Dinamarca. “Eu acabei citando que a Inglaterra estava sobrevivendo na Copa do Mundo, não conseguia jogar bem com regularidade mas vinha sobrevivendo. Méritos da equipe, pois em um torneio de tiro curto você não vai conseguir jogar bem, mas vai sobrevivendo para passar de fase”, complementa.
O destaque das Lionesses é a zagueira Alex Greenwood, do Manchester City. A comentarista analisa que a atleta é a melhor peça do time até a semifinal, importante na saída de bola e consistente em todas as partidas. “Como muitas equipes estão dando atenção na Keira Walsh nas construções de bola inglesa, Greenwood tem sido um desafogo de bola”
As duas equipes tiveram o futebol feminino proibido em seus países, assim como o Brasil; a Espanha, durante a Ditadura Franquista e a Inglaterra, por mais de meio século. As duas seleções estarão em uma final de Copa do Mundo Feminina pela primeira vez na história.
O terceiro lugar vai ficar em casa?
Um dos países sede, a Austrália, obteve o melhor desempenho em Copas após perder para a Inglaterra na semifinal. Até então, as Matildas não passaram das quartas de final.
Matildas é o nome oficial da seleção feminina australiana. Em 1995, antes da Copa do Mundo da Suécia, o canal de TV SBS e a Associação Australiana de Futebol Feminino abriram uma votação pública para achar um apelido para a equipe e popularizar a modalidade.
Para conquistar o terceiro lugar, a equipe vai contar com a força do povo australiano dentro e fora do estádio. A Fifa Fan Fest, espaço público para que os fãs de futebol consigam assistir aos jogos, foi inaugurado pela primeira vez na Copa do Mundo Feminina.
A comentarista acredita que esse boom no suporte a Seleção deve continuar pós-Copa do Mundo, aproveitar a juventude que começou a acompanhar os jogos durante o torneio e apoiar para fomentar o futebol feminino no país. “Ta muito legal o que a gente está acompanhando, o clima e a torcida abraçando a equipe e o Mundial; os conteúdos dos torcedores apoiando as jogadoras, o país parando para ver os jogos”
A Austrália vai enfrentar a Suécia. A equipe é a mais experiente entre as seleções sobreviventes na Copa; em 2003 foi vice-campeã. A seleção nórdica eliminou os Estados Unidos, campeã da Copa em 2019 nas oitavas, e o Japão, nas quartas. A goleira do Chelsea Zećira Mušović é uma das destaques da equipe, eleita Jogadora da Partida contra os EUA.
O jogo será a disputa entre uma Seleção que está acostumada em disputar partidas de terceiro lugar, a Suécia e uma equipe que chega pela primeira vez a uma disputa de pódio mundial, a Austrália. “Um terceiro lugar seria a melhor colocação da Austrália em uma grande competição adulta. Então acho que essa é uma motivação grande; vejo um jogo equilibrado entre as duas equipes e será decidido no detalhe. Acho que vai ser uma boa partida”, finaliza Amanda.
Durante a coletiva de imprensa depois da derrota na semifinal, o técnico da Austrália, Tony Gustavsson exaltou a torcida. “Estou muito feliz como os fãs apoiaram o time mesmo em um momento triste depois do jogo. Acho que uma razão disso é que eles (os fãs) estão orgulhosos que as jogadoras deixaram tudo em campo”
O jogo entre Austrália e Inglaterra tornou-se o evento esportivo mais assistido no país, com 42% da população assistindo a partida em apenas um canal. Em uma nação onde o Rugby é o esporte mais popular, foram as Matildas que conquistaram o coração de todos.
Mayara Rocha – 4° período
*Produto produzido para a disciplina de Jornalismo online, sob a supervisão da professora Michele Vieira.








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