A estreia de “Máquina do Desejo”, dirigido por Joaquim Castro e Lucas Weglinski, proporciona um olhar para o legado artístico e biográfico de um dos grandes expoentes das artes cênicas do Brasil, José Celso Martinez Corrêa. O dramaturgo foi responsável por comandar uma das principais companhias teatrais do país, o Teatro Oficina. Zé Celso, como era conhecido, faleceu no dia 06 de julho deste ano. O documentário recebeu reconhecimento no circuito de festivais de cinema, dentre eles as premiações de melhor edição no Festival É Tudo Verdade, Melhor filme documental no FICCSUR (Chile), e menção honrosa pela montagem no Prêmio edt. 

Foto: Divulgação

O Teatro Oficina é uma das organizações teatrais com maior longevidade do país. Ao longo de 60 anos a companhia, que permanece em atividade atualmente, foi vanguardista e uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento do Tropicalismo, além de estabelecer remodelações e novas vertentes em linguagens artísticas. O trabalho sempre buscou uma representação de uma identidade verdadeiramente brasileira.

O documentário se desenvolve por meio de um olhar cronológico de acontecimentos e destaca o período embrionário que desdobra as dúvidas, as críticas iniciais e a construção progressiva de uma herança cultural assimilada ao longo do filme. A contribuição artística, porém, não é a única pauta apresentada no longa-metragem, ainda tem: discussões sobre o meio ambiente, especulações imobiliárias, disputas jurídicas e a busca pela contemplação e reconhecimento do setor público para a políticas públicas no setor cultural.

O material audiovisual é vasto e inclui filmagens de espetáculos, obras audiovisuais que também atestam o desenvolvimento da companhia, assim como apresenta fotografias e matérias jornalísticas que enriquecem e propiciam o espectador de informações. Existe no projeto a escolha de muitas vezes não identificar quem são os responsáveis por determinadas falas, trazendo para a produção uma ideia de coletivo e não do pensamento individual de um depoimento. O filme abraça o resgate de um passado entrelaçado com o presente, que traz projeções e expectativas para um futuro.

A montagem é a principal forma como a produção estabelece o seu elo narrativo, o qual é responsável por articular diferentes linhas temporais, diversos materiais fragmentados e vozes isoladas, apresentadas aqui de uma maneira que é possível compreender os percursos e etapas enfrentados pelo Teatro Oficina e o grande mobilizador da organização, Zé Celso, mas mantendo um impacto conceitual reforçado pelo caráter essencialmente performático e transgressivo das imagens. O desenho de som é um dos elementos artísticos que potencializa essa tendência conceitual, trazendo uma variedade de sons, foleys (reproduções artificiais de complementares de um filme), ruídos que ajudam a criar um tom solene ao projeto.

“Máquina do Desejo” é um documentário que busca não ser apenas uma proposta de resgate da cultura brasileira por um retrato vívido da arte, mas confronta o espectador com os questionamentos, com a controvérsia, a dificuldade da realização artística em um país que enfrenta inúmeras questões sociais. É uma oportunidade para testemunhar um rito de passagem de Zé Celso nas telonas. Confira o trailler!


Márcio Weber – 3° período

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