“La Parle” (2022) chega aos cinemas brasileiros com uma condição incomum no circuito exibidor do país, sendo uma co-produção entre Brasil e França assinada por quatro diretores (Fanny Boldini, Kevin Vanstaen, Simon Beaulieu e a brasileira Gabriela Boeri). O projeto é fruto de uma residência artística, a “Les Ateliers du Cinéma”, liderada pelo premiado cineasta francês Claude Lelouch. O filme foi exibido no Festival International du film de Saint-Jean-de-Luz, na França, e também participou da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O longa-metragem aborda conflitos pessoais e vivências de quatro jovens adultos no sudoeste francês em divisa com a Espanha.

Foto: Divulgação

Ao longo das férias de verão na França. Fanny, Gabriela, Kevin e Simon compartilham momentos pessoais, interligados pelo convívio diário entre eles, cada um atravessa questões sensíveis que envolvem doenças, trabalho e família. O convívio entre eles desemboca em conexões inesperadas dentro de La Parle, que, conforme a tradição do lugar, representa uma onda forte que mexe com os sentimentos das pessoas e traz resoluções de problemas.

“La Parle” tem como intuito apresentar histórias de quatro indivíduos por meio de uma estrutura híbrida que, embora seja ficcional, se assemelha ao documentário, especialmente ao ensaístico, com imagens mais soltas e narrativas verborrágicas em off, tornando as fronteiras quase invisíveis. Isso pode gerar um processo imersivo que instiga o espectador pela curiosidade e pelas possibilidades interpretativas relacionadas à abordagem, mas também pode dificultar a compreensão e acompanhar a evolução do processo.

Aqui o filme se pauta por um ritmo mais cadenciado, lento que coloca tanto uma perspectiva mais individual, e reflexiva, em que as reflexões e angústias deles ecoam em narrações ao longo do projeto, enquanto existe os momentos de um convívio coletivo que eles interagem e mostram diferenças culturais e emocionais, sendo momentos em que o ficcional está mais evidente tanto na interpretação quanto na imagem. Apesar de ter pouco mais de uma hora, a duração é compatível com o desenvolvimento do filme e minimiza um  possível efeito de cansaço e excessos para o longa-metragem.

Filmado praticamente com o uso do IPhone e rodado em preto e branco. O longa  é restritivo, o que requer uma atenção especial, já que apresenta uma abordagem conceitual em que as razões e as condições para a realização do projeto estão intimamente ligadas à apreciação do filme. Ademais, a relação mais fragmentada na forma de contar as histórias de vida dos personagens e a representação simbólica do local onde o filme acontece  criam uma obra de inclinação poética e de mensagens diluídas, esquivando de um trabalho de discurso mais assertivo e direto.

A ambientação, através das características específicas da fotografia reforçam uma atmosfera singular de um local de veraneio, em que as belezas naturais das praias, o movimento das ondas, o vôo das gaivotas, surfistas e a concentração de barcos, típicos da costa basca da França, são reforçadas gerando a sensação de movimento e propício para reflexões intimistas. O tom ganha ainda mais peso na aparição de diversas fotos em porta-retratos de família e vídeos pessoais em VHS. A música melódica e confortante amarra essa vocação ambicionada pelos recursos e locais do filme.

“La Parle” não apresenta muitas credenciais de um cinema comercial e isso pode gerar um afastamento de um público mais diverso, mas, mesmo que não desenvolva uma abordagem exatamente singular, pode evocar emoções particulares que têm o potencial de alcançar um espectador mais disposto a embarcar no que o projeto comunica. Distribuído pela Pandora Filmes, o longa chega nesta quinta (29/06), às salas de cinema do Brasil. Confira o trailler:


Márcio Weber – 2° período

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